Há um determinado ponto de cegueira nos olhos da alma, vez ou outra o ser caí de ponta cabeça num poço de amargura, noutras vezes caí em pé e escala os paredões do poço com as unhas e determinação.
Isso tudo prova que ele não passa de uma indefinição, está sempre entre o início e o fim, a bem da verdade, ele está sempre retardando o inevitável fim da rota, na qual, todos os mistérios se chocam e talvez o reduza a nada.
O que ainda o assegura, o aprisiona, são suas convicções, ainda que cegas, mas com anestesia suficiente para mantê-lo calado ante a silenciosa dor de ser o que realmente ele é.
Os cicerones dessa jornada são os poetas (os que nascem poetas, não os que se dizem poetas) e os filósofos, aqueles que há muito foram engolidos pela voracidade da realidade.
Aqueles que falam de uma forma mais branda verdades cruéis e profundas da vida, palavras que parecem ter saído das entranhas de Deus, pois trazem calor de alma, ainda que contenham decepção e desmistificação.
Aqueles que mostram que ninguém é livre, visto que, no máximo alguns possuem a cela um pouco maior que outros e esse espaço ilude quanto a liberdade.
Aqueles que aconselham que não se deve erigir casas novas com pedras de casas velhas, visto que, tudo tem de ser superado e não repetido.
Aqueles que não pregam a felicidade como completude, mas algo intermitente como o leito de rio do deserto, que às vezes está cheio, noutras vezes está seco.
Aqueles que pregam o equilíbrio ante a vida, a arte do nem lá, nem cá, mas o meio termo, visto que, todos caminham sobre um fio estendido sobre um abismo, o abismo nietzscheano, e ninguém é responsável pelos passos do ser humano, além dele mesmo.
Aqueles que ensinam que não se deve esperar ilusões e alegrias da poesia com cheiro de entranhas da alma, do poema existencialista e da filosofia - parafraseando Deleuze, não servem para felicitar, mas para entristecer o homem ao acordá-lo e ao mostra-lhe que ele está muito aquém do que imagina, longe, muito longe de suas próprias convicções.
Aqueles que apontam para um caminho - no qual eles também transitam, o caminho que apesar de alguns percalços, o homem pode viver em harmonia com a natureza e consigo mesmo, desde que se aceite como realmente é, e viva sempre com os olhos abertos.